Era noite.
Sob aquele céu azul-tímido, que teimava em se esconder atrás da obscuridade os seus astros covardes e cheios de incertezas, que mal sabia o valor de suas víceras ocultadas pela insegurança de expor todo o seu brilho, estava aquela Luneta, que o admirava da superfície das certezas terrestres. Ela se indignava com a cena superficial vista de longe. E mesmo que forjasse o máximo zoom possível de sua lente, ainda sentiria um distanciamento do recôndito céu.
Ela adorava poder vê-lo, mesmo que pálido e trancado com chaves de solidão. Tudo que a Luneta mais queria, era construir um arranha-céu de ternura, para conquistar a proximidade, encurtar a distância e acertar a chave da porta de ferro do adorado céu. Mas era impossível.
De súbito, pôs-se a chorar enraivecida.
O céu, ah, o céu continuava sem manifesto. Trancafiado.
Fadigada da vã insistência e, pela primeira vez, Luneta sentiu desânimo de observá-lo. Então, fechou-se contra a escuridão de seu interior.
Era dia.
Uma luz amarela audaciosa atravessou sua face acordando-a.
Inocente, deixou-se por enganar pela aurora simpática de todos os dias. E, como todas as outras púberes e ingênuas lunetas, apaixonou-se pelo banal astro-rei. Um popstar, sempre vaidoso e iluminado. Ele não fazia questão de esconder o seu orgulho ao ver o imenso fã-clube dependente de sua luz. Dentre as adoradoras alienadas pelo aparente e conquistador brilho, estava a Luneta, que um dia trocou a noite de um céu duvidoso, por um incerto sol.
Os olhos do dia se fecharam.
Era noite.
Inesperadamente, entra em palco daquele ex-tímido céu azul, uma estrela encantadora, de beleza infinda, e pompa cintilante. Na tentativa de chamar a preciosa atenção da Luneta. Porém, de nada adiantara. Pois a presença tardia do céu, já não fazia mais sentido para ela. Nem mesmo os relâmpagos, trovões e a tempestade que se seguiam não despertava interesse algum na então desiludida luneta.
Ainda noite e o Céu chora (numa sensível transparência como aquela lágrima-de-chuva que caía).